Um grupo de 73 mulheres que estava em um voo da LATAM (antigamente conhecida como TAM) seguindo de Salvador para Brasília, na tarde desta terça-feira, foi retirado da aeronave pela Polícia Federal após vaias à deputada Tia Eron. A delegação, que seguia para a IV Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, gritou palavras de ordem contra a parlamentar, que deu voto favorável ao impeachment da presidente Dilma. Empresa fala em “comportamento indisciplinado”.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, a deputada Alice Portugal (PCdoB), que esteve no aeroporto de Brasília, relatou o episódio e disse que as mulheres foram detidas a pedido dos parlamentares Tia Eron (PRB) e Jutahy Magalhães (PSDB), que se sentiram ofendidos com a manifestação contra o impeachment.
“Estamos aqui na frente da polícia federal, são 70 mulheres detidas porque se manifestaram de maneira absolutamente normal, cantando músicas contra o golpe. E dois deputados, a saber Tia Eron e Jutahy Magalhães, que, sentindo-se ofendidos, acionaram o comandante, que fez a detenção das mulheres aqui na Polícia Federal para a tomada de informações de documentos”, disse.
A manifestação das delegadas começou logo no embarque, na Bahia. O grupo resolveu dar uma resposta a Tia Eron por seu voto no processo de impeachment, quando ela disse que representava “a mulher negra e nordestina”. A delegação cantou: “Ô Tia Eron, ninguém aguenta, não vá dizer que você me representa”.
De acordo com informações de movimentos sociais, as mulheres teriam sido conduzidas em grupos de 10 para a Polícia Federal, onde prestaram esclarecimentos e estão sendo liberadas aos poucos.
Citada pela deputada Alice Portugal, a parlamentar Tia Eron se defendeu. Ao Extra, ela disse que não se opõe a manifestações e que não se sentiu ofendida.
— Acho democrático as pessoas se manifestarem. Essa semana está acontecendo a Conferência Nacional de Mulheres. Eu as conheço, como militante e mulher negra. Pegamos o avião e elas gritaram palavras de ordem normais. Ninguém veio me empurrar. Tinha mais ou menos nove deputados a bordo. Se o comandante tomou medidas de segurança, isso deve ser perguntado a eles (a empresa). Jamais eu vou me sentir ofendida se alguém divergir do que eu penso —, declarou.
Tia Eron também negou as acusações de que havia acionado o comandante ou a Polícia Federal.
— Que elas provem que fui eu que chamei. Pergunte se eu levantei para ir ao toalete. Eu estava com fone de ouvido e óculos. Cheguei a cochilar, porque estou consumida. Eu não estava brigando —, declarou.
O outro parlamentar citado, Jutahy Magalhães, foi procurado pela reportagem, mas não foi encontrado.
A assessoria de imprensa da LATAM, como agora se chama a empresa de aviação, informou, por meio de nota, que as clientes a bordo tiveram “comportamento indisciplinado” e que está à disposição e colaborando com as autoridades. A companhia informou, ainda, que a Polícia Federal foi acionada, conforme os procedimentos de segurança, devido à grande quantidade de manifestantes. Confira a nota oficial:
“A LATAM Airlines esclarece que hoje (10) foi necessário o apoio da Polícia Federal no desembarque do voo JJ3437 (Salvador – Brasília) em função de comportamento indisciplinado de clientes a bordo. A empresa está à total disposição e colaborando com as autoridades.
A empresa reforça ainda que segue os mais elevados padrões de segurança, atendendo rigorosamente aos regulamentos de autoridades nacionais e internacionais”.
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